Publicada em 26/10/2010
Suspeita é de que médicos aplicaram outro medicamento no lugar do interferon peguilado, cuja dose custa R$ 1,7 mil Uma das maiores e mais conceituadas clínicas oncológicas do Rio, a Oncologistas Associados, foi condenada pela 23.ª Vara Cível a pagar R$ 40 mil de indenização por danos morais à chef Elen Casagrande por falhas no tratamento com o medicamento interferon peguilado, indicado para o tratamento de hepatite C. Cada ampola do medicamento custa, em média, R$ 1,7 mil. A suspeita é de que a paciente não tenha recebido as doses do remédio, mas teve outro produto injetado. A clínica e a empresária recorreram da decisão.
Elen começou a fazer o tratamento - que prevê a aplicação de uma dose semanal do remédio durante 48 semanas - em julho de 2003. Um exame de sangue na oitava semana mostrou que o vírus não estava presente no organismo. O remédio, que é tóxico para a medula, também havia reduzido plaquetas e leucócitos.
Na 12.ª semana, no entanto, o procedimento mudou - outra funcionária aplicou o remédio, desta vez nas costas, e Elen não sentiu dor no momento da injeção. Os efeitos colaterais também foram inexistentes. "Eu tinha febre e dores no corpo após a injeção. A sensação era a de uma gripe muito forte. Naquela vez nada disso aconteceu e na semana seguinte também", conta.
Elen comunicou a desconfiança ao médico que a acompanhava, que pediu novos exames. A carga viral havia reaparecido e a as taxas do sangue tinham se recuperado, o que não ocorre durante o tratamento com o interferon peguilado. "O exame atestava a omissão das doses. Os médicos não sabiam o que fazer comigo, porque não havia parâmetro para a interrupção involuntária do tratamento", conta a chef.
Uma equipe de biomatemáticos começou a estudar o caso de Elen, que passou a fazer exames semanais para acompanhar as taxas. Eles estabeleceram que ela deveria retomar o tratamento do início. Ao todo, a chef tomou 68 doses do medicamento. "É um tratamento doloroso, em que você perde os cabelos, fica debilitada. E podiam ter retirado de mim a minha única chance de cura. O meu caso serve de alerta a todos os pacientes: fiquem atentos ao seu tratamento. As pessoas devem exigir que as normas sejam cumpridas e o medicamento, aberto na frente delas."
Em sua decisão, o juiz André Fernandes Arruda afirmou que a responsabilidade da "correta aplicação do medicamento" cabe à clínica. "A existência de erro (...) não torna a ré um estabelecimento desprovido de confiança ou bons profissionais, apenas evidencia a incessante necessidade de melhoria dos serviços."
Procurado pelo Estado, o diretor executivo da clínica Paulo Siqueira informou que só falaria amanhã sobre o caso. "Só posso dizer que não houve comprovação de omissão da dose."
Fonte: Estadao.com.br - 26/10/2010
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